A divulgação das Sete Leis é uma ramificação essencial da lei de Sistemas de Justiça (Dinim, דינים), que vai além da observância pessoal. Esta obrigação impõe aos Bnei Noaḥ o dever de compartilhar ativamente o conhecimento das Sete Leis com outros indivíduos, expandindo a consciência e a adesão a elas por toda a humanidade.

Esta responsabilidade manifesta uma dimensão educativa da justiça com um escopo muito maior que o estabelecimento de tribunais e aplicação de leis, abrangendo também a disseminação do conhecimento que permite aos não judeus agirem em conformidade com a vontade divina.

Base Teórica

A tradição judaica, amparada na Torá e no Talmud, estabelece que a lei de Sistemas de Justiça foi ordenada aos Bnei Noaḥ, o que inclui falar sobre as Sete Leis para o maior número de pessoas possível (Sanhedrin 56b). Essa obrigação decorre da compreensão de que essas leis não são exclusividade do povo judeu, mas sim uma responsabilidade compartilhada por toda a humanidade.

De acordo com o Talmud (Sanhedrin 56b), as Sete Leis foram dadas por Deus à humanidade desde os tempos de Adam Harishon, sendo posteriormente reafirmadas a Noaḥ e seus descendentes (Sanhedrin 56a). O Rebe de Lubavitch enfatizou amplamente esse papel na época moderna, incentivando os judeus a serem ativos na divulgação das Sete Leis como parte do processo de preparação para a redenção final, o que se extende aos Bnei Noaḥ.

Aspectos da Obrigação

Mais do que uma sugestão, a halaḥá diz que todo Ben Noaḥ tem o dever de divulgar estas leis ativamente. Essa assistência pode se manifestar por meio de aconselhamento, orientação ou repreensão construtiva. Inicialmente, o foco deve estar no compartilhamento integral do conhecimento sobre a existência, conteúdo e importância delas, envolvendo a correção de equívocos e concepções distorcidas que possam existir, para que os fundamentos autênticos sejam esclarecidos.

Isso deve ir além da teoria e fornecer orientação prática sobre a implementação, tornando esse código de leis acessível e aplicável na vida contemporânea. O objetivo maior dessa ramificação é criar sociedades justas, motivando outros a aceitarem e cumprirem estas leis.

Limitações e Responsabilidades

Embora seja essencial, obrigatoriedade da disseminação das Sete Leis não é absoluta. A halaḥá isenta os Bnei Noaḥ dessa responsabilidade em situações que coloquem em risco a vida ou o sustento familiar (Sanhedrin 74a). Conforme o princípio de “veḥai bahem” de Vaicrá 18.5, que ensina que os mandamentos não existem para colocar a vida em risco. 

A abordagem deve ser feita com respeito à dignidade e autonomia dos outros, sem coerção ou intimidação. Essa arte da divulgar deve considerar o momento e o contexto adequados, por meio da sensibilidade às circunstâncias e à receptividade da pessoa. No entanto, ela deve ser equilibrada com outras responsabilidades, como o sustento familiar e o próprio desenvolvimento espiritual.

Metodologias de Divulgação

A aplicação contemporânea desta ramificação requer estratégias adaptadas ao contexto atual, permitindo que os Bnei Noaḥ sejam eficientes na divulgação das Sete Leis:

Abordagem Individual

A abordagem individual é o método mais direto e personalizado de transmissão, pois este contato pessoal cria oportunidades para diálogos profundos e adaptados às circunstâncias, conhecimentos prévios e questionamentos específicos de cada pessoa. O contato individual permite calibrar o tom, o conteúdo e o ritmo da informação compartilhada, respondendo sensivelmente às reações e necessidades do interlocutor. Este abordagem pessoal pode ser feita por meio de:

- Exemplo Pessoal: Viver a vida noaíta de forma exemplar, servindo de modelo para os outros. A integridade pessoal e o compromisso com as Sete Leis naturalmente inspiram as pessoas a buscar o conhecimento correto.

- Aconselhamento: Conversas pessoais que respondam às questões e preocupações específicas da pessoa, respeitando seu nível de conhecimento e perspectiva.

- Festas Judaicas: Convidar pessoas para festas judaicas em família, onde o ambiente é propício para se falar de Torá.

- Testemunho Pessoal: Compartilhar o caminho pessoal de descoberta e aceitação das Sete Leis, criando pontos de conexão através de experiências autênticas.

- Ensino Direto: Explicar as Sete Leis com clareza, mostrando sua origem na Torá e sua relevância para a humanidade. Isso pode ser feito como uma conversa informal ou através de organização de aulas, seguindo algum tipo de estrutura de conteúdo.

- Publicação em Mídias Digitais: Compartilhar conhecimento sobre as Sete Leis em livros, artigos e plataformas online.

Abordagem Coletiva

A abordagem comunitária expande o alcance da divulgação para além do contato individual, visando grupos unidos por interesses, valores ou circunstâncias comuns. Esta modalidade permite a criação de ambientes coletivos de aprendizado, onde o conhecimento das Sete Leis é compartilhado, discutido e internalizado através da troca de experiências. A formação de comunidades de estudo regular fortalece tanto o conhecimento teórico quanto a aplicação prática da vida noaíta, criando redes de apoio mútuo onde os participantes podem compartilhar desafios e soluções. Algumas das formas de divulgar coletivamente são:

- Educação Formal: Organização de aulas, palestras, workshops e seminários sobre as Sete Leis.

- Grupos de Debate: Participar de discussões sobre ética e moral, apresentando a perspectiva noaíta.

- Festas Judaicas: Organizar celebrações coletivas, como forma de ambientes adequados para compartilhar assuntos de Torá.

- Parcerias Institucionais: Colaboração com instituições educacionais, sociais e religiosas para criar maior consciência e alcance.

- Presença Digital: Utilização estratégica de websites, mídias sociais e plataformas digitais para alcançar públicos mais amplos com conteúdo acessível e relevante.

Esta abordagem reconhece que a observância das Sete Leis flui melhor em ambientes onde existe suporte coletivo, permitindo que indivíduos em diferentes estágios de conhecimento se beneficiem da sabedoria e experiência compartilhadas.

Abordagem Profissional

A abordagem profissional transcende os círculos comunitários imediatos para influenciar estruturas e valores sociais mais amplos, posicionando as Sete Leis como fundamentos para a ética pública e o bem-estar coletivo. Esta dimensão da divulgação busca integrar os princípios das Sete Leis em discussões contemporâneas sobre justiça, ética, preservação ambiental, dignidade humana e harmonia social em ambientes profissionais, especialmente na forma como os Bnei Noaḥ lidam com os negócios. A divulgação profissional inclui:

- Modelo de Atuação: Incluir perspectivas baseadas nas Sete Leis para questões éticas em diferentes campos profissionais.

- Iniciativas de Impacto Social: Desenvolver ou apoiar projetos que demonstrem a aplicação prática das Sete Leis para o bem comum.

- Ênfase nas Sete Leis: Incluir o conceito das Sete Leis em todas as práticas da empresa ou do cargo, permeando as tomadas de decisão e materiais de forma direta ou indireta.

Desafios Contemporâneos

A tarefa de divulgar as Sete Leis enfrenta diversos desafios no mundo atual:

- Secularismo: A visão secular que domina muitas sociedades pode criar resistência a princípios baseados em fundamentos religiosos.

- Pluralismo Religioso: A multiplicidade de tradições religiosas pode gerar confusão ou resistência a conceitos específicos das Sete Leis.

- Relativismo Moral: A noção de que a moralidade é subjetiva dificulta a apresentação das Sete Leis como princípios universais.

- Antissemitismo: O sentimento antissemita que se opõe a tudo o que tenha relação com o judaísmo pode criar embates até com os Bnei Noaḥ.

Cuidados na Divulgação

Para cumprir esta ramificação de forma eficaz e respeitosa, os Bnei Noaḥ devem tomar alguns cuidados:

Estudo Profundo: Muitos Bnei Noaḥ podem ter compreensão insuficiente das Sete Leis para ensinar. Por isso, a halaḥá determina que eles adquiram conhecimento sólido das Sete Leis e suas ramificações antes de querer ensinar a outros.

Evangelização: Divulgar as Sete Leis não se trata do evangelismo cristão, e isto pode ser confundido até mesmo pelos Bnei Noah que vêm do cristianismo. Deve haver um cuidado para não transformar essa ramificação em um programa de evangelização noaíta.

Diálogo: Estabelecer conversas bidirecionais que respeitem a inteligência e perspectiva da pessoa, sem criar um monólogo entediante. A conversa deve respeitar a liberdade de escolha individual, evitando pressão ou manipulação.

O Modelo de Avraham

O patriarca Avraham é considerado o arquétipo para a divulgação do conhecimento divino. A Guemará (Sotá 10b) relata que ele e Sara eram ativos nessa missão de propagação do monoteísmo e estabeleceram um modelo de atuação bastante estratégico, onde ofereciam hospitalidade e comida aos viajantes com o objetivo de ensinar o monoteísmo a eles.

Segundo essa Guemará, Avraham recebia os viajantes em sua tenda, criando oportunidades naturais para compartilhar o conhecimento sobre o Criador. Ele utilizava uma metodologia eficaz de diálogo e questionamento para levar outros à compreensão, em vez de simplesmente impor suas crenças. A Guemará diz que quando os viajantes agradeciam a ele pela refeição, Avraham fazia com que eles dissessem uma bênção de agradecimento ao Criador.

O Midrash sugere que Avraham adaptava seu ensino ao nível de compreensão de cada pessoa, reconhecendo as diferenças individuais. Isso faz com que essa metodologia seja extremamente útil para os Bnei Noaḥ até hoje.

A divulgação das Sete Leis é uma extensão natural do pacto noaíta, trazendo a responsabilidade de disseminar o conhecimento divino como forma de expansão comunitária e enraizamento das Sete Leis em vários sistemas do mundo. De certa forma, isto honra o legado dos ancestrais como parte da missão universal dos Bnei Noaḥ.