Amaldiçoar com os Nomes Divinos

Código de Leis

A proibição de amaldiçoar utilizando os Nomes divinos representa uma das manifestações mais graves da transgressão de Bircat Hashem (ברכת השם). Ela constitui a base da reverência devida ao Criador e estabelece limites claros para o uso da linguagem em relação ao Divino, sendo considerada o coração da lei de Ofensa ao Criador. A halaḥá traz as dimensões específicas desta proibição, incluindo suas categorias e implicações para os Bnei Noaḥ.


Os sábios estabeleceram diferenças importantes no Talmud (Shevuot 35a) entre os Nomes propriamente divinos (Shemot, שמות) e os apelidos ou atributos (Kinuim, כינויים) utilizados para se referir ao Criador. Os Nomes divinos possuem santidade intrínseca e sua pronúncia inadequada ou em contexto impróprio por si só já é considerada uma violação grave. Paralelamente, os apelidos ou atributos divinos, embora mereçam respeito, não possuem o mesmo nível de santidade dos Nomes propriamente ditos. Para os Bnei Noaḥ, conforme codificado pelos poskim (decisores haláḥicos), a proibição abrange tanto os Nomes divinos propriamente ditos quanto os apelidos, embora com níveis diferentes de gravidade.




Nomes Divinos




Tetragrama (י - ה - ו - ה)

Adonai (אדני)

Tsevaot (צבאות)

Shadai (שדי)

Ehiê (אהיה)

Elohim (אלהים)

El (אל)

Eloá (אלוה)

Iá (יה)




Apelidos ou Atributos




Piedoso (Raḥum, רחום)

Gracioso (Ḥanun, חנון)

Verdade (Emet, אמת)

Paz (Shalom, שלום)


Outros atributos que descrevem as qualidades divinas também entram nesta lista, mesmo que estejam em outras línguas.




Categorias da Proibição




Amaldiçoar Diretamente


A forma mais grave desta transgressão consiste em amaldiçoar diretamente utilizando um dos Nomes divinos. O Talmud (Sanhedrin 56a) estabelece que uma pessoa não é responsável a menos que amaldiçoe o nome de Deus. O Rambam (Hilḥot Avodá Zará 2.7) compara a gravidade desta ofensa à idolatria, observando que ambas negam o princípio fundamental da fé e são punidas com a mesma severidade.


Amaldiçoar um Nome com Outro Nome


O Talmud (Sanhedrin 56a) esclarece que é proibido utilizar um Nome divino para amaldiçoar outro Nome divino. Como explica a Guemará, “De onde deriva este assunto? Shemuel diz que é derivado do verso que afirma que ‘quem ofender o Nome do Criador será morto… e será morto por ter ofendido o Nome do Criador’ (Vaicrá 24.16). É derivado da repetição da frase ‘ofender o Nome’ que a referência é amaldiçoar o Nome de Deus com o Nome de Deus.”


Amaldiçoar com Apelidos


O Talmud (Shevuot 35a) apresenta uma disputa sobre a gravidade de amaldiçoar utilizando apelidos do Criador, onde o Rabino Meir defende que quem amaldiçoa a Deus usando qualquer um desses apelidos está sujeito à execução por apedrejamento, enquanto outros rabinos consideram isso isento, sustentando que alguém só deve responsável por amaldiçoar a Deus se empregar o Nome distinto Dele.


O Sefer Haḥinuḥ (Mitsvá 70) explica que a violação de Bircat Hashem esvazia a pessoa de todo bem através da má fala. Pois, como os humanos se diferenciam dos animais principalmente pela sua capacidade de fala, a Torá ensina que esse esvaziamento causa o rebaixamento moral do ser humano ao nível animal.


Amaldiçoar em Nome de Idolatria


A combinação de Bircat Hashem (ofensa ao Criador) e Avodá Zará (idolatria) intensifica a gravidade da transgressão. O Rambam (Hilḥot Avodá Zará 2.7) conecta estas proibições, afirmando que quem aceita um deus falso como verdadeiro, mesmo que não o adore de fato, desonra e ofende o Nome do Criador. Isso se aplica tanto a quem adora deuses falsos quanto a quem amaldiçoa o Nome de Deus. Esta conexão sublinha como a ofensa ao Criador está intimamente ligada ao reconhecimento indevido de outras entidades.




Apelidos ou Atributos




A base da proibição de amaldiçoar o Nome divino se encontra na Torá (Vaicrá 24.15-16), que diz “Fala aos filhos de Israel, dizendo ‘Qualquer homem que amaldiçoar seu Deus carregará seu pecado, e quem ofender o Nome do Criador será morto. Toda a congregação apedrejará essa pessoa, tanto o estrangeiro como o nativo, e será morto por ter ofendido o Nome do Criador.’”


O Talmud (Sanhedrin 56a) inclui esta proibição entre as Sete Leis, estendendo formalmente a autoridade dela sobre toda a humanidade. universal de Bereshit (2.16), onde a palavra hebraica “Criador” (Tetragrama) no verso é interpretada como contendo a raiz da proibição de ofensa ao Nome do Criador.




Punições Haláḥicas




A Torá estabelece explicitamente a pena capital para a violação de amaldiçoar usando Nomes divinos. O Rambam (Hilḥot Melaḥim 9.14) esclarece que a pena capital para os Bnei Noaḥ por violações das Sete Leis é por decapitação, requerendo apenas um juiz, uma testemunha e sem a necessidade de aviso prévio (hatráa, התראה), diferindo do procedimento mais rigoroso aplicado aos judeus.


Na ausência dessas condições, que não existem atualmente, a sentença não pode ser aplicada por tribunais rabínicos. No entanto, a gravidade da transgressão permanece inalterada na perspectiva haláḥica.




Orientações práticas




Educação e Conscientização


Os Bnei Noaḥ devem aprender sobre os Nomes divinos e seu significado, desenvolvendo um vocabulário adequado para se referir ao Criador com a reverência apropriada. Esta educação deve incluir a compreensão das distinções entre Nomes e apelidos divinos, e formas haláḥicas para evitar o uso inadequado deles.


Cuidado na Linguagem Cotidiana


Muitas expressões coloquiais em diversos idiomas incorporam referências casuais a Nomes divinos. Esses jargões podem ser problemáticos do ponto de vista da halaḥá. Os Bnei Noaḥ devem desenvolver consciência dessas expressões e substituí-las por alternativas que não envolvam o uso inadequado dos Nomes divinos.


Um bom exemplo disso em português é a expressão “O tempo está louco”, que coloca o clima como uma força independente (idolatria) enquanto diz que o Criador, que é quem controla o clima de fato, não sabe o que está fazendo.


Reação Apropriada a Transgressões


Ao testemunhar alguém amaldiçoando com os Nomes divinos, a tradição recomenda se distanciar da situação quando possível, demonstrando desaprovação de forma apropriada e buscar educar respeitosamente sobre a gravidade do ato quando oportuno.


Ambientes Digitais


A comunicação em ambientes digitais se tornou muito informal e impulsiva, levando a usos inadequados da linguagem. Os Bnei Noaḥ devem tomar um cuidado especial em suas postagens, curtidas e compartilhamentos nas redes sociais, messengers e em outras plataformas digitais, para não violar a proibição de Bircat Hashem.


Na prática, é recomendado que os Bnei Noaḥ evitem curtir ou compartilhar posts e memes que usam Nomes divinos à toa, em tom de piada, sarcasmo ou ironia. Também é importante deixar de seguir perfis, canais e influenciadores que tratam as coisas sagradas de forma desrespeitosa. Em vez disso, os Bnei Noaḥ podem adotar um estilo mais reservado, com menos atividade nas redes, ou priorizar o compartilhamento de materiais que promovam as Sete Leis e a reverência ao Criador, como citações de rabinos confiáveis.




Conexões com Outras Leis Noaítas




A proibição de amaldiçoar com os Nomes divinos relaciona-se intimamente com outras leis noaítas:


- Idolatria: Amaldiçoar o Criador frequentemente envolve elementos de rejeição da unicidade divina.

- Sistemas de Justiça: Os tribunais noaítas têm responsabilidade de educar sobre esta proibição e, historicamente, de julgar suas transgressões.

- Roubo: O Midrash compara o desrespeito aos Nomes divinos a uma forma de roubo da dignidade devida ao Criador.


A proibição de amaldiçoar o Criador usando Nomes divinos estabelece os limites necessários para o uso da linguagem em relação ao Divino, preservando a santidade do conceito do Criador na consciência humana.


Para os Bnei Noaḥ, a observância cuidadosa desta proibição traz um reconhecimento prático da centralidade do Criador em toda a existência, reafirmando a identidade noaíta como guardiões da reverência ao Criador no mundo moderno.

Qualquer um que aceite os Sete Mandamentos e tenha cuidado em fazer isso é um justo entre as nações do mundo e tem uma parte no próximo mundo.

- Maimônides, Mishnê Torá

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