Respeito ao Criador

Código de Leis

O respeito ao Criador é um aspecto fundamental da lei de Bircat Hashem que representa o outro lado da moeda da proibição de amaldiçoar o Nome divino. Esta dimensão da lei estabelece os parâmetros básicos da relação dos Bnei Noaḥ com o Criador, abrangendo a fala, atitudes, pensamentos e comportamentos que demonstram o tratamento adequado com respeito e reverência.




Fundamentos do respeito




O conceito de respeito ao Criador aparece em diversos trechos da Torá. No livro de Malaḥi 1.6, está escrito que “Um filho deve honrar seu pai, e um servo deve honrar seu dono. Como Eu sou o Pai, onde está a honra devida a Mim? Como Eu sou o Dono, onde está o temor devido a Mim?”. Este verso estabelece a analogia entre o respeito natural devido às autoridades e aquele devido ao Criador, indicando que se deve ter uma reverência ainda maior pelo Divino.


O Talmud (Beraḥot 33b) ensina que tudo está nas mãos do céu, exceto o próprio temor ao céu. Isto significa que a reverência ao Criador é uma escolha humana, e que nada no céu pode impor isso a uma pessoa. Maimônides (Hilḥot Iessodei Hatorá 2.2) afirma que o caminho para alcançar o amor e o temor a Deus vem da contemplação da criação e da apreciação pela sabedoria infinita Dele, estabelecendo assim a conexão entre reconhecimento e respeito.




Pessimismo em relação ao Criador




Um dos aspectos mais graves da falta de respeito ao Criador é a expressão de pessimismo em relação a Ele. O Talmud (Taanit 11a) ensina que é proibido questionar a justiça divina durante momentos de dificuldade. O livro de Iov aborda extensivamente este tema, demonstrando como até mesmo nos maiores sofrimentos, o questionamento da justiça divina é considerado inadequado.


A proibição inclui expressões como “o Criador não se importa” ou “Deus se esqueceu de mim”, que contradizem a crença fundamental na providência divina (hashgaḥá pratit). Tais expressões não apenas demonstram falta de respeito, mas podem enfraquecer a fé tanto da pessoa que as pronuncia quanto daqueles que as ouvem.




Proibição de culpar o Criador




Intimamente relacionada ao pessimismo está a proibição de culpar o Criador por falhas ou dificuldades pessoais. O Rei Shelomo (Mishlei 19.3) aborda diretamente esta questão, ao dizer que “A tolice do homem arruina seu caminho, fazendo seu coração se irar contra o Criador”. Este verso destaca como as pessoas frequentemente atribuem ao Criador as consequências de suas próprias escolhas inadequadas.


A tradição judaica ensina a aceitação da providência divina, reconhecendo que tudo o que ocorre tem um propósito, mesmo quando esse propósito não é imediatamente compreensível para a mente humana. O Talmud (Beraḥot 60b) ensina que uma pessoa deve se acostumar a dizer que tudo o que o Criador faz é para o bem.


Esta aceitação não implica em uma postura passiva, mas no reconhecimento de que existe um propósito divino que vai além da compreensão imediata. Os Bnei Noaḥ são encorajados a cultivar esta perspectiva, especialmente em momentos difíceis.




Modos adequados na Reza




A comunicação direta com o Criador através da reza requer atenção particular à forma de se dirigir a Ele. Inicialmente, o Talmud (Beraḥot 32b) afirma que a reza tem mais valor do que boas ações sem a reza, enfatizando a necessidade de se comunicar diretamente com o Criador. Os sábios estabeleceram alguns princípios como estrutura ideal para a reza:


- Iniciar com elogios antes de fazer pedidos

- Reconhecer a soberania divina

- Evitar exigências ou ultimatos

- Manter uma postura corporal respeitosa durante a reza

- Concentrar-se nas palavras e seus significados durante a comunicação




Linguagem pejorativa sobre o Criador




Falar sobre o Criador, Suas leis ou Seus caminhos de maneira pejorativa constitui uma séria violação da lei de Bircat Hashem. Esta proibição se estende além da ofensa formal para incluir qualquer linguagem que diminua a percepção da grandeza divina.


O Talmud (Sanhedrin 63a) discute como comentários aparentemente inofensivos podem constituir falta de respeito a Deus. Expressões que insinuam limitações no poder, sabedoria ou bondade do Criador são especialmente problemáticas.


Esta proibição também abrange conversas casuais ou humorísticas que tratam o Criador com leviandade. Embora a tradição judaica reconheça o valor do humor em contextos apropriados, a referência ao Criador sempre deve manter um nível básico de reverência e reconhecimento de Sua supremacia.




Falar do Criador de Forma Casual




Os sábios também estabeleceram a proibição de mencionar o Nome do Criador ou discutir assuntos divinos em contextos inapropriados. O Talmud (Beraḥot 24b) proíbe até mesmo o estudo de Torá em locais impuros ou durante atividades que não condizem com a dignidade dos ensinamentos sagrados. Esta proibição inclui:


- Mencionar o Nome divino em locais inadequados (banheiros, locais de impureza)

- Invocar referências divinas em conversas fúteis

- Usar expressões que contêm o Nome divino como interjeições ou exclamações casuais

- Discutir assuntos sagrados durante atividades inapropriadas


Para os Bnei Noaḥ, esta lei exige ainda mais atenção ao contexto em que se menciona ou se refere ao Criador, pois a maioria dos ambientes que eles frequentam são dominados por culturas e ideologias hostis com a halaḥá.




Cultivo do respeito positivo




O respeito ao Criador não se limita a evitar comportamentos negativos, mas também inclui atitudes positivas. Isso envolve a regularidade na reza, o estudo da Torá, a meditação na sabedoria divina, a prática constante de gratidão e uma conduta ética e moral exemplar, que honra o Criador.


O grande teste do respeito ao Criador frequentemente ocorre em momentos de dificuldade ou sofrimento. A literatura judaica está repleta de exemplos de indivíduos que se mantiveram firmes mesmo nas circunstâncias mais desafiadoras. O livro de Iov oferece um estudo profundo sobre o tema, culminando no reconhecimento de que os caminhos do Criador estão além da compreensão humana.


Nos momentos de dificuldade, os Bnei Noaḥ são encorajados a reafirmar sua confiança no Criador e evitar acusações ou questionamentos da justiça divina. Por isso, é importante buscar aprender as lições do sofrimento, mantendo a perspectiva de que há um propósito maior que pode não ser imediatamente aparente.




Transmissão destes valores




Parte do trabalho de respeito ao Criador é transmitir esses valores às próximas gerações. Como está escrito na Torá (Devarim 6.7), que os ensinamentos divinos devem ser ensinados com clareza aos filhos, falando deles em todos os momentos da vida.


Os Bnei Noaḥ têm a responsabilidade de transmitir este respeito através de:


- Exemplo pessoal, demonstrando reverência em palavras e ações

- Ensino explícito, explicando os princípios do respeito sempre que puder

- Criação de um ambiente onde o respeito ao Criador seja natural e valorizado

- Correção gentil quando observarem falta de respeito em outros, especialmente em crianças




Orientações práticas




Os Bnei Noaḥ devem desenvolver o hábito de agradecer ao Criador regularmente, reconhecendo a bondade Dele em todas as áreas da vida. Respeitar o Criador é a chave para uma visão de mundo que permeia todos os aspectos da vida, desde a comunicação direta em orações até os pensamentos mais íntimos sobre a providência divina. Essa atitude positiva mostra que Bircat Hashem não deve ser apenas uma proibição ou obrigação legal, mas uma oportunidade de trazer ao mundo o reconhecimento da soberania, bondade e sabedoria infinita do Criador.

Qualquer um que aceite os Sete Mandamentos e tenha cuidado em fazer isso é um justo entre as nações do mundo e tem uma parte no próximo mundo.

- Maimônides, Mishnê Torá

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