Influência espiritual de Shem e Ever

Fundamentos

A transmissão da sabedoria divina de uma geração à outra sempre foi um dos temas centrais na tradição judaica. Antes mesmo do nascimento de qualquer um dos patriarcas, essa prática já era comum entre aqueles que serviam ao Criador. Quando os descendentes de Noaḥ repovoaram a terra e o mundo emergiu em escuridão, Shem e Ever se encarregaram de manter vivo o conhecimento do Criador.


Shem, filho de Noaḥ, sobreviveu ao dilúvio e testemunhou a reconstrução da humanidade. Ele conheceu desde o mundo pre-diluviano até a época de Iaacov, portanto, foi contemporâneo de Avraham e teve grande participação no desenvolvimento dele como patriarca do povo judeu. O Midrash (Pirkei Derabi Eliezer 27) identifica Shem como MalkiTsedec, o rei de Shalem e sacerdote do Altíssimo, que encontrou Avraham após a batalha dos reis no livro de Bereshit. De acordo com a Torá (Bereshit 14.18), Shem ofereceu pão e vinho, abençoando Avraham como herdeiro da missão de preservar o conhecimento divino.


Esse episódio reflete a transição da liderança espiritual do mundo para Avraham e sua descendência, consolidando a futura aliança entre Deus e o povo de Israel.


Ever, bisneto de Shem, também teve um papel significativo na transmissão do monoteísmo. Seu nome está ligado à ideia de separação, e a tradição judaica o considera um profeta. O verso “Ever teve dois filhos. O nome do primeiro era Peleg, pois em seus dias a terra foi dividida, e o nome do seu irmão era Ioctan” (Bereshit 10.25) indica que Ever esteve na geração da dispersão, que construiu a torre de Bavel. O Midrash (Bereshit Rabá 37.7) sugere que ele permaneceu leal ao Criador, preservando o monoteísmo em meio a uma nova corrupção espiritual.


Desde a criação, a língua sagrada (lashon hacodesh, לשון הקדש) era a única língua conhecida no mundo, mudando apenas na época da torre de Bavel. O Midrash (Ialcut Shimoni 62) menciona que Ever foi o único descendente de Shem que não aderiu à rebelião de Nimrod, mostrando sua lealdade ao Criador. Essa lealdade é reforçada pelo fato de que somente a linhagem dele manteve o lashon hacodesh. O impacto disso foi tão grande que a língua sagrada posteriormente ficou conhecida como hebraico (ivrit, עברית) por causa do nome dele.


Um dos legados mais notáveis de Shem e Ever foi a fundação de uma ieshivá, um centro de estudos onde os patriarcas aprenderam a sabedoria do Criador. É conhecido que Avraham aprendeu os segredos místicos do hebraico e compilou um livro chamado Sefer Ietsirá (Livro da Formação). O Midrash (Bereshit Rabá 63.6) também relata que Iaacov estudou na academia de Shem e Ever por 14 anos antes de seguir para a casa de Lavan.


A identidade hebraica de Avraham reflete essa conexão com Shem e Ever, consolidando seu próprio caminho espiritual sob a orientação deles. Essa relação mostra que Avraham recebeu uma transmissão de conhecimento deles que remonta desde a época de Adam.


Apesar de ser pouco conhecida, a contribuição de Shem e Ever vai além da transmissão de uma identidade espiritual que culminou na revelação do Sinai. Eles foram a ponte entre o mundo pré-diluviano e o monoteísmo abraâmico, garantindo que o conhecimento que o Criador ensinou a Adam não fosse esquecido em uma época de decadência. Shem e Ever foram figuras essenciais na história espiritual da humanidade, pois o legado deles manteve viva a tradição primordial da sabedoria divina.

Qualquer um que aceite os Sete Mandamentos e tenha cuidado em fazer isso é um justo entre as nações do mundo e tem uma parte no próximo mundo.

- Maimônides, Mishnê Torá

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