O Grande Reset
Fundamentos
A geração do dilúvio foi marcada pelo afastamento total do Criador, instaurando uma era de depravação inimaginável. Dez gerações após a criação do primeiro humano, a humanidade caiu moralmente. A Torá dá a entender que a corrupção começou pelos homens mais poderosos até chegar às classes mais baixas. A lei que imperava na sociedade era a lei da selva, a lei do mais forte ou do mais esperto.
Segundo o Midrash (Bereshit Rabá 26.5), os Bnei Elohim se sentiam no direito de possuir qualquer mulher, até mesmo mulheres casadas. Havia uma corrupção na instituição do casamento, onde as noivas eram abusadas antes de dormirem com seus maridos. Além disso, havia zoofilia e muitas outras práticas de imoralidade sexual. O abuso sexual foi seguido por roubo e assassinato, colapsando a sociedade. Os humanos renunciaram à sua imagem divina e se entregaram aos seus instintos selvagens.
Esse Midrash relata que a sociedade daquela época não apenas tolerava, mas institucionalizava práticas abomináveis. Isso era feito através de registros escritos (guimomsiot, גימומסיות) para uniões entre homens e animais, o que tornou a destruição algo irreversível.
A geração do Mabul não foi destruída do mundo até que começaram a escrever contratos de casamento para homens com outros homens e com animais.
Esse trecho indica que a gota d'água para o decreto da destruição foi quando a sociedade formalizou legalmente essas uniões. A corrupção não era apenas um desvio moral individual, mas um sistema socialmente aceito e legitimado. A institucionalização dessas práticas refletia uma subversão total da ordem natural estabelecida pelo Criador.
Noaḥ aparece como o ponto de esperança nesse cenário caótico, ele é descrito como um homem completamente justo na época dele (Bereshit 6.9). Os sábios discutiram muito sobre o nível espiritual de Noaḥ em relação aos grandes justos da Torá, mas é indiscutível que, para os padrões daquela geração, ele era o mais elevado.
O dilúvio (mabul, מבול) foi minuciosamente detalhado na Torá. Noaḥ foi avisado da destruição quando ele tinha 480 anos e recebeu a ordem de construir uma arca com 300 côvados de comprimento, 50 côvados de largura e 30 côvados de altura, oferecendo à humanidade a oportunidade de arrependimento (Bereshit 6.15). Ele levou 120 anos para construir a arca.
A inundação começou no dia dezessete de Ḥeshvan do ano 1656 da criação, conforme o calendário hebraico. A chuva caiu por quarenta dias, e a água continuou subindo por 150 dias, cobrindo todas as montanhas em pelo menos 15 côvados. No dia 17 de Sivan, a arca repousou sobre o monte Ararat, mas levou meses para a água recuar. No dia dez de Elul, Noaḥ soltou um corvo para avaliar a terra, e ao longo do mês de Elul, ele fez mais três tentativas com uma pomba, até que ela não retornou. A terra secou completamente no primeiro dia de Ḥeshvan de 1657, mas Noaḥ e sua família permaneceram na arca até 27 de Ḥeshvan, completando um total de um ano e dez dias desde o início da inundação.
De acordo com o relato bíblico, somente oito pessoas sobreviveram ao dilúvio, Noaḥ e sua esposa, Shem, Ḥam e Iefet e as esposas deles. A tradição judaica (Rashi, Bereshit 7.4) explica que o avô de Noaḥ, Metushelaḥ, também era um justo, mas como ele morreu antes do início da inundação, houve um período de sete dias de luto pela morte dele.
O objetivo do dilúvio vai além da ideia de punição, ele é visto nas fontes judaicas como um ato de purificação cósmica. Segundo a Cabalá, esse evento foi um grande micve para limpar a impureza que havia na terra. A ordem natural estava tão subvertida que foi necessário um “grande reset” mundial para a humanidade recomeçar em um estado mais puro e alinhado com a vontade do Criador.
Qualquer um que aceite os Sete Mandamentos e tenha cuidado em fazer isso é um justo entre as nações do mundo e tem uma parte no próximo mundo.
- Maimônides, Mishnê Torá