O início da idolatria

Fundamentos

A Torá ensina que a idolatria não surgiu de uma rebeldia direta contra o Criador, mas de uma distorção progressiva na forma como as pessoas se relacionavam com Ele. Esse processo começou na geração de Enosh, como está escrito em Bereshit 4.26 que “Shet teve um filho e o chamou de Enosh. Foi então que os homens começaram a invocar o Nome do Criador”.


Esse verso carrega um mistério profundo sobre como as primeiras gerações da humanidade começaram a distorcer o conceito de adoração ao Criador. Os sábios interpretam o verbo invocar (licro, לקרוא) como profanar ou ofender. De fato, o Talmud Ierushalmi (Ḥaguigá 2.1) revela que, na geração de Enosh, as pessoas começaram a associar poderes divinos a intermediários, como uma forma inicial de idolatria.


Nessa época, havia a crença de que o Criador era infinito e elevado demais para a humanidade, e que ela não poderia se relacionar diretamente com Ele. Essa lógica levou as pessoas a enxergarem os astros e as forças da natureza como representantes do Criador na terra. Maimônides explica no Mishnê Torá (Hilḥot Avodat Coḥavim 1.1-2) que os primeiros idólatras raciocinaram que honrar os astros seria uma forma de reverenciar o Criador, assim como um servo honra o ministro para agradar ao rei.


O Midrash (Bereshit Rabá 23.7) diz que esse processo de esquecimento do Criador foi gradual. As pessoas começaram a construir altares e oferecer sacrifícios ao sol, à lua e aos planetas, pensando que isso seria uma extensão do serviço divino. Com o tempo, os astros deixaram de ser reconhecidos como representantes do Criador e passaram a ser venerados como deuses independentes. O Rabi Iehuda Halevi (Kuzari 1.115) menciona que, embora a idolatria inicial pudesse parecer uma lógica racional, na verdade, ela era uma distorção do monoteísmo.


De acordo com a tradição judaica, o Criador permitiu que as pessoas explorassem esse caminho até a época de Noaḥ, quando o dilúvio trouxe um período de renovação, em que a idolatria foi deixada de lado.


A história do início da idolatria na geração de Enosh serve como um alerta atemporal. Esse desvio gradual é o que torna a idolatria tão perigosa, pois ela sempre começa de uma forma inofensiva, mas aos poucos, substitui completamente o Criador. No mundo moderno, a busca pela espiritualidade por meios indiretos continua sendo um desafio em muitas tradições religiosas. Por outro lado, o judaísmo sempre defendeu que a conexão com o Criador não depende de intermediários, como está escrito em Devarim 4.35 que o Criador é Deus e mais ninguém. Este é o pilar central do monoteísmo judaico, que rejeita qualquer forma de mediação ou idolatria em favor de uma conexão direta com o Criador.

Qualquer um que aceite os Sete Mandamentos e tenha cuidado em fazer isso é um justo entre as nações do mundo e tem uma parte no próximo mundo.

- Maimônides, Mishnê Torá

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